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Por Paulo Roberto 28 out., 2020
Quando falamos “poeta da Vitrine Literária” não é só pra lustrar a prata da casa, mas porque realmente o Angelo Soares Neto é um dos companheiros nossos desde os primeiros anos. Já publicamos juntos seis livros – poemas, contos, histórias infantis (ilustradas por ele mesmo). Por isso, imaginem a alegria nossa com a notícia de que um poema do Ângelo, “Fome” (que seria publicado no próximo livro dele), foi premiado com Menção Extraordinária no Nósside, um concurso mundial de poesia, com sede na Itália, que reúne participantes de 100 países, com obras em 135 idiomas diferentes. Esta é a 35ª edição do Prêmio, criado em 1983. “O poema discorre sobre o sentido e o significado do que é a fome, real, miserável, abjeta. Talvez por isso a premiação, por ser uma realidade ainda presente em grande parte dos países do mundo”, comentou o poeta. Este é o segundo destaque internacional da poesia de Angelo Soares Neto. Seu livro de estreia, “Cadê”, foi finalista, em 2009, do Prêmio Portugal Telecom (atual Oceanos).  Apreciem o poema premiado pelo Nósside: FOME A fome não está nos olhos que fogem gemendo da vergonha dos olhos. A fome vem do oco, avesso que ruge e rasga, olhos, nariz e boca do estômago que tem fome, que se torce e grita, se reduz e chora. Ninguém vê a fome, ela caminha por dentro. Rosto de fome se chama tristeza, sobrenome miséria. Fome não tem cheiro: tem desejos. Não tem forma, vestida de abandono. Fome não tem família. Só filhos que também tem fome, doenças e remela nos olhos, amarelos, alguns são vesgos, tem vícios, outros nem isso, chegam e passam. Pesadelo plantado e triturado nos dentes da vergonha, fome não tem sentido. Tem presença.
Por Paulo Roberto 08 out., 2020
Praticamente desconhecida no Brasil, onde nunca foi traduzida, ela também não estava entre os nomes mais cotados das apostas. Mas foi escolhida pela Academia Sueca por causa de "inconfundível voz poética que, com austera beleza, faz da existência individual universal". Ela é a poeta norte-americana Louise Glück, 77 anos, professora da Universidade Yale, que já conquistou prêmios importantes, como o Pulitzer e o National Book Award. Desde sua estreia em 1968, Louise publicou 12 coletâneas de poemas e vários ensaios sobre poesia. Segundo o New York Times, “os versos de Glück muitas vezes refletem sua preocupação com temas sombrios - isolamento, traição, família fragmentada e relacionamentos conjugais, morte. Mas sua linguagem escassa e destilada, e seu recurso frequente a figuras mitológicas familiares, dão a sua poesia um toque universal e atemporal, disse o crítico e escritor Daniel Mendelsohn, editor geral da The New York Review of Books. ‘Quando você lê seus poemas sobre essas coisas difíceis, você se sente mais limpo do que deprimido’, disse ele. ‘Esta é uma das sensibilidades poéticas mais puras da literatura mundial atualmente. É uma espécie de poesia absoluta, poesia sem truques, sem ceder a modismos ou tendências. Tem a qualidade de algo que está quase fora do tempo.’” “Ararat”, uma coleção de poemas de 1990, foi “o livro mais brutal e cheio de tristeza de poesia americana publicado nos últimos 25 anos”, escreveu (o crítico) Dwight Garner em um artigo de 2012 do New York Times. No mesmo ano, em uma entrevista, Louise Glück descreveu a escrita como “um tormento, um lugar de sofrimento, angustiante”. (Foto: The New York Times / Katherine Wolkoff)
Por Paulo Rezende 30 ago., 2020
Empurre, goela abaixo de uma máquina hiperpowerfull, 45 terabytes de texto. Todo tipo de texto escrito, da bíblia a bulas de remédio e sentenças judiciais. Tem ideia do tamanho disso, em páginas? Um terabyte equivale a 6,5 milhões delas, de documentos – ou 1.300 armários físicos cheios de papel impresso. 45 tera terão, então, cerca de 300 milhões de páginas, ou quase 60 mil armários. Imagina tirar poeira disso tudo. Mas o pesadelo vem agora: depois de engolir essa porraiada toda de informação, esse troço é capaz de botar tudo nos pacotinhos digitais corretos, e depois formar textos, vamos dizer, do próprio punho, a partir de ordens externas. Você pode digitar lá: “quero frases unindo pum e pelo menos outras quatro palavras.” O ideal é você dizer também quantas frases, se não vai passar o resto da vida lendo as respostas. Então tá “quero cinco frases usando pum unida a quatro outras palavras”. E pode sair: “Pum fede pra caralho, pô!” “Pum em elevador é letal.” “Gases expelidos pelo ânus? Pum!” “Você que soltou um pum?” “Esse gato solta cada pum...” Interessante, mas inútil? Aguarde. Aí você pode parar de bancar o adolescente, fingir que é um psiquiatra, e digitar “Complexo de Édipo é o desejo de foder com o pai e comer a mãe. Escreva uma obra de 200 páginas, segundo os preceitos de Freud, a partir da afirmação dada. Acrescente pelo menos uma nota de rodapé por página com as considerações de Foucault sobre os conceitos freudianos a respeito.” Imagine a radioatividade que emitirá um documento destes e o estrago que fará nos neurônios? Apavore-se! Arrependa de seus pecados antes de perder a pouca razão que acha que tem. Essa coisa já existe, chama-se GTP-3, um que-nome-dar-a-isso-? desenvolvido por uma empresa chamada OpenAI. Segundo o texto do Hermano Vianna que li na Folha, pouquíssima gente tem acesso aos textos gerados pelo troço. Mas existem versões pra zé-ninguéns, como o “AI Dungeon”, onde pode-se criar “obras literárias” em parceria com o computador, alimentado no mesmo esquema do GTP-3. Fui lá. Leiam o que saiu. Atendendo a orientações do site, escolhi, numa história de mistério, ser um espião chamado Moro Júnior. O texto em itálico são minhas intervenções, o resto criado pelo site. A tradução via Google. Você é o Moro Júnior, um espião que mora em Chicago. Você tem uma pistola escondida e uma seringa de veneno. Você ouve os diplomatas russos discutindo as possíveis rotas de fuga do rei se os rebeldes assumirem o palácio. Você também aprenderá quais deles estão mais próximos do rei e planejará sua própria abordagem. > Você pergunta a eles onde está a família bolsonaro. Há uma resposta quase imediatamente. "A família está no porão, mas você não vai pegá-los porque há guardas por perto." > Você por que a família está presa? Há uma longa pausa, antes que a voz responda. “Eles estão sendo responsabilizados pela morte da república”. Parei... Mêda... Disarreda, capeta... Desconectei a internet, por segurança: tirei aquele trem azul do troço. Brinca com inteligência artificial, vai!
Por Paulo Rezende 22 ago., 2020
P ouquíssimos – dedos de um maneta? – escritores conseguiram unir tão bem literatura e ficção científica como Ray Bradbury, nascido em 21 de agosto de 1920, cem anos neste sábado. O cenário predileto dos contos dele era Marte, mas ele garantiu a imortalidade com o “Fahrenheit 451”, um inferno futuro em que os livros eram destruídos em fogueiras e seus leitores perseguidos pelo Estado. O protagonista é um “bombeiro”, profissional especializado em incinerar os volumes e as casas onde são encontrados. O centenário de Bradbury terá relançamento do 451 (a temperatura em que o papel pega fogo, se o Ray se chamasse Raimundo certamente o título seria 233 Celsius) em edição de luxo. E depois vem mais uma enxurrada de relança. Aliás, em meio ao monte de matérias que comemoraram a data, um dado me deixou com um pé atrás do outro, desequilibrado: disseram que Fahrenheit 451 vendeu 75 mil cópias no Brasil só em 2019. O quê? Enfim... Mas Bradbury é bem mais que livros pegando fogo. Escreveu outros 10 romances e publicou 17 coletâneas de contos. Os títulos valem por si só: As crônicas marcianas, Os frutos dourados do sol, O homem ilustrado, Morte é um transação solitária, Vinho de dente de leão, Algo sinistro vem por aí... Badbury era, acima de qualquer coisa, um amante de livros e de bibliotecas. Morreu em 2012. Sorte dele: não conheceu Trump, Bolsonaro e a claque calhorda que os pariu... E nem teve que enfrentar estes tempos em que cultura é, basicamente, uma ilha de sanidade sendo aos poucos afogada pelos bárbaros.
Por Paulo Rezende 18 ago., 2020
Os números são de uma pesquisa da Nielsen Book, que começou a acompanhar o mercado em 2006, coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). O subsetor mais atingido foi o de livros científicos, técnicos e profissionais: 50% de queda entre 2014 e 2019. Obras Gerais, queda de 34% nas vendas (2006-2019), e Didáticos, também queda, de 23% (idem). A única exceção foi a venda de livros religiosos, que nestes 14 anos não só não caiu como aumentou um pouquinho: 2%. Mas, no geral, a situação só piora. Este ano, com a pandemia dominando o mundo, até maio o varejo de livros no Brasil já tinha caído 13% em relação ao ano passado. Triste notícia para quem, como nós, gosta de livros: com dinheiro escasso, dificilmente as grandes editoras se arriscarão. E dezenas de autores promissores continuarão à margem do mercado.
Por Paulo Rezen de 18 ago., 2020
No jornal O Globo, uma matéria excelente sobre como as pequenas livrarias têm enfrentado a pandemia.
Por Paulo Rezende 15 ago., 2020
A administração da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) anunciou o cancelamento da homenagem, na edição 2020, à poeta norte-americana Elizabeth Bishop (primeira estrangeira a ter uma edição dedica a ela). Bishop tinha sido indicada pela curadora Fernanda Diamant, que se demitiu agora no dia 12 de agosto. Entre os motivos, alegou que tinha sido feito à sua revelia o adiamento da festa para novembro (deveria ter sido realizada agora, entre 29 de julhos e 2 de agosto, mas a pandemia parará pôrôrô). Na verdade, ainda não se sabe sequer se haverá eventos presenciais ou só pela web. Se houver.  O novo alvo da homenagem será indicado por quem substituir Fernanda. Ela disse que a FLIP “precisa de uma curadora negra para reinventá-la neste mundo pós-pandemia.” Não dá pra entender essa mistura de alho com aralho. Opa, aí eu quero como curadorx um hermafrodita albina de baixa estatura física. Mas não é assim que a coisa funciona. Sem falar que literatura é espaço para quem sabe escrever de verdade, seja lá de que sexo ou cor for. Maravilhoso o Black Lives Matter, mas não é uma santa receita pra tudo. E quem anda arrotando “feminismos” por aí deveria ler “Minha vida na estrada”, da Glória Steinem (a gente volta ao livro qualquer dia aqui). Ali se percebe que os buracos são mais embaixo, mais acima, mais atrás, mais do lado e, principalmente, sob os próprios pés.   A indicação de Bishop, anunciada no final do ano passado, gerou polêmica: a poeta, que morou 20 anos no Brasil, inclusive adquiriu uma casa em Ouro Preto (daí a imagem lá de cima) apoiou entusiasmada o golpe de 64. Independentemente da posição política dela, o que é mais estranho é essa frescura de homenagear gringo com tanta gente boa esquecida aqui dentro (vou citar só o Guimarães Rosa e o Manuel de Barros pra não correr o risco de esquecer outros). Interessante é que, na edição do ano passado (homenageado = Euclydes da Cunha), Fernanda Diamant tinha conseguido quebrar um pouco da monotonia da Flip com a participação de muitas mulheres e de um autor indígena, Ailton Krenak.   Repasso na cabeça uma lista de autoras negras, de Conceição Evaristo a Ana Paula Maia, e tudo que desejo para elas é distância de uma curadoria (ainda mais a de Paraty, com as grandes editoras fundando no cangote) e mais tempo e reconhecimento – em dinheiro, faz bem para a alma e o corpo – para continuarem a escrever bons livros.   Porque, cá entre nós, mesmo com raros esforços em contrário e algumas mudancinhas cosméticas, a Flip tem sido, desde sempre, uma confraternização engessada de estrelas e cometinhas, alienada da realidade da literatura brasileira. 
Por Profile Profile 05 ago., 2020
Com certeza é um dos best-sellers mais longevos que o Brasil já viu. “Mulheres que correm com os lobos” está perto de completar 30 anos de lançamento, e continua surpreendendo. A versão do livro em capa dura está em terceiro lugar na categoria de não ficção da lista da Veja, com os mais vendidos no Brasil.
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