OUTRAS VOZES

Parágrafo Novo


PARA CONHECER LOUISE GLÜCK



Quando a Academia Sueca anunciou a vencedora do Nobel de Literatura, no dia 8 de outubro, pouquíssimas pessoas sabiam de quem se tratava. Pior: menos pessoas ainda tinham lido qualquer coisa dela em português. Louise Glück nunca foi publicada no Brasil.


Agora, graças à colaboração da tradutora Patrícia Reis Buzzini, os leitores da Vitrine Literária poderão apreciar aqui, com exclusividade, o poema “Vespers” (“Vésperas”), do livro “From The Wild Iris”, de 1992.


“O poema me chamou a atenção pela riqueza (e ao mesmo tempo pela simplicidade) das metáforas utilizadas para abordar temas complexos como a ilusão de racionalidade e de controle", disse Patrícia, "questionando a noção tradicional de ‘responsabilidade’ e apresentando uma visão bastante realista das agruras da vida de todas as pessoas.”


Vespers

By Louise Glück


In your extended absence, you permit me

use of earth, anticipating

some return on investment. I must report

failure in my assignment, principally

regarding the tomato plants.

I think I should not be encouraged to grow

tomatoes. Or, if I am, you should withhold

the heavy rains, the cold nights that come

so often here, while other regions get

twelve weeks of summer. All this

belongs to you: on the other hand,

I planted the seeds, I watched the first shoots

like wings tearing the soil, and it was my heart

broken by the blight, the black spot so quickly

multiplying in the rows. I doubt

you have a heart, in our understanding of

that term. You who do not discriminate

between the dead and the living, who are, in consequence,

immune to foreshadowing, you may not know

how much terror we bear, the spotted leaf,

the red leaves of the maple falling

even in August, in early darkness: I am responsible

for these vines.

Vésperas

Louise Glück


Na sua longa ausência, recebi a tarefa

de cuidar da terra, na esperança

de receber alguma recompensa. Devo admitir

que falhei, principalmente

com os ramos de tomate.

Acho que não deveria ter arriscado em cultivar

tomates. Ou, quem sabe, você poderia ter impedido

as chuvas fortes, as noites frias que viriam

com tanta frequência, enquanto o verão durava doze semanas em outras regiões. Tudo isso

pertence a você: por outro lado,

eu plantei as sementes, vi os primeiros brotos

saírem do solo como asas, e meu coração

foi destruído pela praga, a mancha negra que se multiplicou rápido demais entre os galhos. Duvidei

que você tivesse coração, na minha concepção

do termo. Você que não faz distinção

entre vivos e mortos, que são, consequentemente,

imunes a prenúncios, não pode imaginar

quantas aflições suportamos, as manchas nas folhas,

as folhas avermelhadas do carvalho caindo

mesmo em março, no início da escuridão: eu sou responsável por essas vinhas.



Tradução: Patrícia R. Buzzini

Patrícia Reis Buzzini é formada em Letras com Habilitação de Tradutor pela UNESP, com Mestrado e Doutorado na área de Estudos Linguísticos. Atuou como docente no Ensino Técnico e Superior por quinze anos, no ensino de língua inglesa e espanhola. É tradutora e colaboradora no Jornal Diário da Região de Rio Preto, formada em decoração (SENAC), Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (ABRESC) e membro da Academia Rio-Pretense de Letras e Cultura (ARLEC).Parágrafo Novo

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